A ilusão muito necessária das cores

Sabia que as cores não existem em si? Elas são uma sensação do organismo dos seres vivos mas não estão verdadeiramente no mundo. Neste artigo, você vai ver como tecnicamente as cores são muito mais uma criação do que a percepção do real, mas nem por isso menos importantes ou necessárias do que se existissem mesmo nos objetos. Pois pensar a cor foi sempre fundamental para a evolução humana, como reconhecer o verde dos alimentos ou o vermelho do sangue.
Isto se torna particularment
e interessante na hora de escolhermos as cores de nossa casa, seja nas paredes, seja nos objetos auxiliares como cortinas, colchas e almofadas. E mais: aparentemente pragmática e técnica, esta reflexão nos chama para o belo mistério da Criação.
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O que poderia ser mais simples ou óbvio do que as cores? O céu é azul. A grama é verde. O sangue é vermelho. O sol é amarelo. Nós vemos as cores como se fizessem parte das coisas, afinal o azul está no céu, o verde na grama, o vermelho no sangue e o amarelo no sol, etecétera e tal. Mas não é bem assim.
Segundo a ciência cognitiva, na real as cores não existem no mundo externo. Nossos corpos e cérebros evoluíram para criar a cor, ao enxergá-la como tradução de uma determinada vibração. A sensação de cor é criada em nosso organismo pela combinação de diferentes fatores: comprimentos de onda da luz refletida, condições de iluminação, tipos de cones coloridos em nossas retinas e o complexo circuito neurológico conectado a estes cones.
Imagine uma maçã sobre a mesa, por exemplo. O comprimento da onda da luz vinda da fruta depende da natureza da luz iluminando-a: tungstênio ou fluorescente, o sol em um dia claro ou nublado, a luz do amanhecer ou do fim do dia, etc., etc.. Sob diferentes condições, os comprimentos de onda vindos da maçã serão consideravelmente diferentes, e você enxergará não a cor da maçã mas a luz refletida nela, criando a "ilusão" da cor.
Sendo assim, a rigor, duas pessoas não enxergam a mesma maçã com as mesmíssimas cores, pois além das condições ambientais, a sensação de cor ainda passa pelo sistema neurológico de cada pessoa.

Outro ponto interessante: a luz não é colorida. Ela é uma radiação eletromagnética, como as ondas de rádio, vibrando dentro de uma freqüência. Não é o tipo de coisa que pode ser colorida. Somente quando esta radiação eletromagnética infringe nossas retinas, nós somos capazes de ver. Ou seja, assim como não há cores no ambiente em si, a luz também é neutra, e a sensação de cor é um resultado sensorial do nosso organismo.

Nem o azul do céu está no céu, ora vejam! O céu não é nem mesmo um objeto. Ele não tem superfície para a cor estar. E, sem uma superfície física, o céu não tem nem mesmo uma superfície reflexível para ser detectado como cor. O céu é azul porque a atmosfera transmite somente uma certa gama de comprimento de onda da luz vinda do sol, e estas ondas que ele transmite sobressaem mais do que as outras. O efeito é como uma lâmpada colorida que deixa somente algumas ondas saírem do vidro. Deste modo, o céu é azul por uma razão muito diferente do que uma pintura de céu azul. O que nós percebemos como azul não caracteriza uma "coisa" única no mundo.
Além de enxergar, pensamos a cor. Plantar vida tem sido importante para nossa evolução, por exemplo, tanto quanto a habilidade para colocar em uma categoria as coisas que são verdes e possuem valores aparentes para a sobrevivência. O mesmo vale para o sangue e a cor vermelha, em analogia. A cor faz mais do que apenas nos ajudar a reconhecer as coisas no mundo. Ela é um aspecto evoluído do cérebro que participa de muitas coisas em nossas vidas, culturais, estéticas e emocionais.

Texto-base: Artigo do livro "Philosophy in the flesh - The embodied mind and its challenge to western thought", George Lakoff and Mark Johnson. Basic Books, Nova Iorque, 1999. ISBN 0-465-05674-1

Veja no ABSOLUTA/Casa mais conteúdo sobre cores, com dicas para cada peça da casa:
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